“Reunidos em um só corpo por meio da cruz” (Ef 2,16b)

“Reunidos em um só corpo por meio da cruz” (Ef 2,16b)

 Por Ir. Jackson C. Silva, NJ*

reunidos num só corpo

 

            O tema da unidade é muito marcante no cristianismo desde suas origens. Desde o testemunho dos doze e dos demais seguidores de Jesus às comunidades aonde o Evangelho chegou, todos foram chamados a permanecerem em um só corpo.

A passagem de Efésios 2,11-22 é um dos exemplos que tratam da unidade que se deve viver os cristãos, principalmente, entre os grupos oriundos dos judeus e dos gentios. Os primeiros desfrutavam das “alianças das promessas” (Ef 2,12) desde a época de Abraão e do seguimento da Lei dada por Moisés. A circuncisão, o sábado e a alimentação de comidas “não contaminadas”, por exemplo, eram preceitos da Lei que nenhum judeu poderia deixar de cumprir. Frequentavam o templo constantemente e nele tinham um espaço reservado e privilegiado para o culto. Já o segundo grupo quando abdicavam de seus preceitos para adotar a religião judaica eram acolhidos, mas com muita reserva: não desfrutavam dos privilégios dos judeus, sendo alheios a Israel (cf. Ef 2,12) , ao ponto de no templo, por exemplo, serem separados dos judeus fisicamente por um muro de pedra tratado em Ef 2,14 como “muro de inimizade”.

O evangelho de Jesus chegou primeiro ao povo da Promessa. Os judeus esperavam o Messias e alguns deles creram em Jesus através dos seguidores do Caminho (nome dado aos primeiros cristãos), mas continuaram com seus costumes. Depois de muita relutância em aceitar que o Evangelho também era destinado aos não-judeus (cf. At 10), com a pregação de Paulo, a “Boa nova” saía do círculo da Palestina e atingia regiões longínquas, habitadas por colônias judaicas, mas que em grande maioria eram compostas por gregos ou gentios. Os gentios também acolheram o Evangelho. No entanto, era difícil submeterem-se aos costumes judaicos exigidos por parte de cristãos vindos do judaísmo, sobretudo, a circuncisão. Daí serem chamados de “incircuncisos” por parte desses (cf. Ef 2,11). Pelo fato de praticarem esportes olímpicos nus, seria humilhante mostrar a marca da circuncisão (feita no órgão genital masculino, hoje comumente conhecida como operação de “fimose”). Dessa forma, por não submeterem a isso quando se tornavam cristãos, a tensão entre esses dois grupos perdurou durante alguns anos.

Como e quem poderia resolver essa tensão? A doação de Jesus na cruz! Ela reconcilia e une todos os homens a Deus. Jesus sendo homem-Deus seria o único a reatar a promessa quebrada outrora pelos nossos antepassados. A salvação é universal e alcança uma dimensão que culmina na unidade entre “os que estão perto” (judeus) e “os que estão longe” (não-judeus) em um só corpo gerando paz! (cf. Ef 2,16-17). O muro da inimizade que separava esses dois grupos foi derrubado e deu lugar agora à comunhão.  Não há “mais estrangeiros nem forasteiros” (Ef 2,19), pois se formou por meio da cruz um único povo (cf. Ef 2,14), uma única e nova humanidade. Todos recebem os privilégios de Deus uma vez que Cristo veio e reconciliou todos. Não há mais exclusão!

Diante disso, temos vivido a UNIDADE DE UM SÓ CORPO em nossas famílias e em nossas comunidades? Talvez para muitos, UNIDADE significasse todos serem iguais, agirem da mesma forma e não respeitar as particularidades dos outros. Mas como doador dos dons, termo que aparece mais no plural que no singular em todo o Novo Testamento, Deus nos faz diferentes para enriquecermos a comunidade contribuindo com nossa particularidade visando uma unidade. Uma comunidade em que todos pensassem e agissem iguais seria medíocre, pobre, parada…

Com isso, estaríamos abertos aos que são diferentes de nós? Ou nos fechamos e excluímos cada um deles? O diferente parece ser uma ameaça ao ponto de nos desestabilizar e queremos que ele seja igual a nós. Entretanto, mal percebemos que amadurecemos e crescemos com aquele que pensa diferente. Daí, uma comunidade em que há respeito pela diferença um dos outros, bem como sua integração visando um bem comum é rica, dinâmica e cresce com a diversidade.

Assim, devemos estar ligados em Jesus e contemplar o mistério da cruz para vencermos o individualismo que perpassa os tempos de hoje. Por pensar muito em si, o ser humano acaba se fechando em sua individualidade de maneira egoísta e não compartilha para tornar-se unidade com o outro. Por, com e em Cristo somos edificados para nos tornar “templo santo” onde Deus se faz morada e não mais o templo de pedra onde havia divisão e exclusão. Dessa forma, deve prevalecer em nós a marca da UNIDADE que contagia o mundo e o faça cada vez mais humano, melhor de se viver.
* Membro do Instituto Religioso Nova Jerusalém. Licenciado em Física pela UFC e em Filosofia pela UECE. Graduando em Teologia na FAJE-BH e pós-graduado em Formadores para Vida Religiosa no ISTA-BH. Contato:jack22nj@hotmail.com

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