Curiosidades Bíblicas

Curiosidades Bíblicas

O que significa João Batista vestir pele de animal?

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             João Batista não segue sua origem sacerdotal, mas assume uma vida profética, como citam os evangelistas a profecia de Is 40,3 “Uma voz que clama do deserto” para “preparar os caminhos do Senhor e tornar retas suas veredas” (Mt 3,3 par).

“João usava uma roupa de pêlos de camelo e um cinturão de couro em torno de seus rins” (Mt 3,4a). Segundo Zc 13,4 essa era a vestimenta dos profetas. E se observarmos 2 Rs 1,7 veremos que João está vestido da mesma forma que o profeta Elias. Este profeta foi modelo de profecia no AT. Ele foi arrebatado ao céu num carro e cavalos de fogo (2 Rs 2,11) e tinha-se a promessa de que ele voltaria antes do dia do Senhor como é encerrado o AT em Ml 3,23-24.

Em Mt 17,10 os discípulos ao perguntar a Jesus por que os escribas dizem que Elias precisa vir primeiro, o Mestre irá identificar Elias com João Batista afirmando: “Elias já veio, mas não o reconheceram. Ao contrário fizeram com ele tudo quanto quiseram” (Mt 17,12a). Mateus ainda explicitará que os discípulos entenderam que Jesus se referia a João Batista (Mt 17,13). Desse modo, o Batista leva consigo as características de Elias, sobretudo no seu espírito e poder profético (Lc 1,17).

Portanto, se Deus reveste Adão e Eva com túnicas de peles após a queda (Gn 3,21), o que aponta para uma proteção e cuidado, indícios de perdão e misericórdia d’Aquele que não abandona sua criação, ele também revestirá seus profetas para a missão de testemunhar e anunciar a Salvação de Deus que visitou seu povo.

Por Ir. Jackson, INJ

Por que a comunidade cristã afirmar que Jesus é Deus, foi um problema que o levou a morte de cruz?

A comunidade cristã ao assumir o grande Rabi (Mestre) Jesus como um Deus é um problema que atinge tantos os judeus como os romanos.

Os primeiros acreditavam em YHWH, o Deus único, soberano, todo-poderoso. Jesus sendo Deus seria uma blasfêmia contra o primeiro e mais importante dos mandamentos da Lei de Moisés: “Ouve, Israel, o SENHOR, nosso Deus, é o único SENHOR. Amarás, pois, o SENHOR, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de toda a tua força” (Dt 6,4). De fato, quando Jesus disse que estaria sentado à direita do Todo-Poderoso e viria sobre as nuvens do céu (cf. Mt 26,64), o sacerdote rasga as vestes afirmando que Jesus blasfemou e o condena réu de morte. (cf. Mt 26,65-66).

Quanto aos romanos, já que seu imperador/rei era tido também como uma divindade, Jesus sendo Deus e rei dos judeus, seria uma grande ameaça ao império romano. Seria uma “concorrência à divindade e poder de César”! Perceba que a acusação contra Jesus feita pelos sacerdotes perante Pilatos envolve: “perversão à nação”, “contra imposto a César” (= não querer estar mais sob o domínio do império), e “ser o Cristo (=Salvador), rei dos Judeus” (cf. Lc 23,2)

Assim, Jesus é condenado tanto pelo tribunal dos sacerdotes (sinédrio) como pelo tribunal do império (Pilatos, representante do imperador César).

Ir. Jackson, NJ*

Qual o significado das talhas de Pedra nas Bodas de Caná?

As seis talhas bem grandes são de pedra por causa de sua pureza como aconselha o Talmud. Elas serviam para as purificações rituais do judaísmo (sobretudo de tendência farisaica) como aponta o texto em Jo 2,6. Estando vazias, ficam inúteis, mas vão servir para uma nova realidade. Jesus dará um novo destino para elas: enche-as com água até à borda, ou seja, em plenitude. Por que não logo com vinho? No judaísmo, a água é associada à Torá! Lembre-se que Jesus não veio aboli-la! (cf. Mt 5, 17-19). Servindo a água tornada vinho, Jesus não só solucionará um “problema” no casamento de Caná, mas tornará a Torá (água) em alegria messiânica (vinho) para povo de Israel, sobretudo com a sua presença.

Por Ir. Jackson, INJ

 Em que consiste a eficácia do  poder da intercessão de Maria nas Bodas de Caná?

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A mãe de Jesus não pode ser considerada como aquela que intercede simplesmente por “milagres”. Na narrativa das Bodas de Caná ela põe seu Filho diante da aflição de Israel, cujo ela também a representa. Ela não é uma testemunha neutra que poderia ter dito “Não há mais vinho”. Mas ao dizer “Eles não tem (mais) vinho” toma as dores de seu povo e manifesta as circunstâncias de angústia como Israel tradicionalmente expunha a Deus em oração confiante na em sua intervenção da melhor maneira possível. Assim, se Deus nunca abandona seu povo, Ele escuta o clamor de seus filhos, inclusive de Maria.

Por Ir. Jackson, NJ

 

Por que os mandamentos da Lei de Deus foram escritos em duas tábuas de pedra?

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O código de Leis das civilizações mais antigas eram escritos em pedra, pois desta forma as leis estabelecidas tornavam-se imutáveis. O mais antigo encontrado até hoje é o código de Hamurabi, rei da Mesopotâmia, escrito em uma única pedra.

O povo de Israel após a saída do Egito, recebeu de Deus, através de Moisés no monte Sinai, o Decálago ou os dez mandamentos em duas tábuas de pedra (cf. Ex 31,18; 34,1). Na maioria das vezes, quando nos deparamos com imagens disso, vemos escrito cinco mandamentos em cada tábua, como se não coubesse em uma só, como se vê em outras civilizações. O  significado disso é bem mais profundo!

A questão é que tanto a saída do Egito como a lei são sinais visíveis de uma Aliança que Deus faz com seu povo. Trata-se de um contrato entre duas partes. As duas tábuas querem significar essa aliança: uma tábua é o “contrato de Deus” e a outra é o “contrato de seu povo”. Assim, quando o povo quebra a aliança, na adoração do bezerro de ouro (cf. Ex 32,1-10), Moisés quebra as tábuas da Lei, não só de raiva (cf. Ex 32,15-20), mas para tornar visível ao povo que o “contrato” foi quebrado. Mas Deus renova a Aliança e mais uma vez o povo recebe por Moisés as duas tábuas da Lei.

Portanto, Israel é um povo especial que tem um Deus especial diferente dos outros povos que não dita as leis numa só pedra, mas em duas, utiliza-as para manifestar sua Aliança, sua proximidade com seu povo.

Ir. Jackson, NJ

Qual o sentido do termo “mulher” utilizado por Jesus nas Bodas de Caná?

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O termo grego gynê  pode sugerir o distanciamento entre Jesus e sua mãe: Ele está em um plano diverso dela. Entretanto, esse termo tem a conotação de “esposa”, “mulher casada”. A mãe de Jesus representa o povo de Israel (mulher esposa) fiel às promessas de seu marido (Deus). Percebamos que em nenhum momento aparece a figura da noiva no relato das Bodas de Caná. Além disso, ela também é a mãe que introduz o “noivo” das núpcias messiânicas (Jesus) e que se preocupa com a alegria e o amor da festa dados pelo vinho que falta.

Sobretudo observe-se que a mãe “mulher” constitui, em João, a “moldura”  do retrato da obra de Jesus: ela está no início dos “sinais” (2,1-5.11-12) e no fim, quando Jesus pronuncia o “consumado está” (19,26) e ela se torna mãe do Discípulo que representa a comunidade e toma o lugar de Jesus no mundo (19,27). Em comunidade com o Discípulo (cf. Atos 1,14) ela representa o novo povo de Deus, a Nova Jerusalém, a Esposa de Ap 21–22.

Por outro lado, alguns fazem à alusão do termo à Mulher do Gênesis, cuja descendência esmagaria a serpente (Gn 3,15) além da mulher misteriosa que devia dar à luz (Mq 5,2; Is 7,14) e a mulher presente na narrativa de Ap 12.

A expressão também aparece em outros trechos do Evangelho de João quando Jesus se dirige: à samaritana (Jo 4,21); a mulher adúltera (Jo 8,10); Maria Madalena (Jo 20,13) e à sua mãe, mais uma vez, aos pés da cruz (Jo 19,26).

Longe de ser pejorativa, como pretende certa leitura fundamentalista, Jesus ao se dirigir assim a essas personagens, em momento algum desejou ofendê-las. Inclusive muitos veem nesse vocativo “mulher”, a valorização da dignidade da mulher na Palestina do tempo de Jesus.

Por Ir. Jackson, NJ*

Por que, dos três Evangelhos sinóticos, apenas o de Marcos não narra o Natal?

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Inicialmente precisamos perceber que cada Evangelho foi escrito por autores diferentes, em contextos diferentes e para destinatários diferentes. Também convém lembrar que nem sempre utilizaram as mesmas fontes.

Partindo disso, o Evangelho de Marcos apresenta-se como o mais antigo datado entre 66-73 d.C. É destinado aos cristãos de Roma que sofrem com a perseguição e consequentemente estão com a fé abalada. Estando em crise, esperam uma “Boa Notícia”- Evangelho (esta palavra aparece mais neste Evangelho que nos outros – 8 vezes). Desta forma, este evangelista irá se preocupar com o que é essencial à comunidade: anunciar a Boa Nova, Jesus, o Messias, o Cristo (cf. Mc 8,29), que foi fiel até a morte na cruz e ao mesmo tempo exaltado, vitorioso, vencedor.

No começo do Evangelho já se tem proclamações: citação de Isaías (Is 40,3 em Mc 1,3); de João Batista (cf. Mc 1,7) e de Jesus (cf. Mc 1,15) e não pormenores do nascimento e infância de Jesus. O centro deste anúncio é que o Reino de Deus está próximo: Jesus já se manifesta no mundo, atuando pela Palavra, pelas ações miraculosas, exorcismos, etc culminando em sua entrega total.

Quanto aos outros evangelhos sinóticos (Mateus e Lucas), eles se utilizaram de outras fontes, inclusive o próprio Evangelho de Marcos, anexando à mensagem essencial do Evangelho as narrativas importantes do Natal do Senhor, para mostrar que Jesus “Filho de Deus” assim o era desde o nascimento e não só após a manifestação de Jesus nos milagres e na ressurreição.

Portanto, jamais podemos dizer que o Evangelho de Marcos é incompleto, já que retrata Jesus estado no meio de nós. Isso ultrapassa e confirma ainda mais o sentido do Natal.

Ir. Jackson C. Silva, NJ

Não é este o filho de José? (Lc 4,22)

Como afirmar que Jesus é filho de Davi e de Abraão, se José é apenas seu pai adotivo?

Essa afirmação está no início do Evangelho de Mateus que em seus 16 primeiros versículos relata os antepassados de Jesus. Começando por Abraão, passando por Davi e chegando a José, o evangelista quer provar que Jesus é verdadeiro descendente de Davi (o rei modelo) e Abraão (pai da fé). A questão é que esses antepassados estão ligados a José, que é apenas pai adotivo de Jesus. Jesus deveria está ligado aos antepassados de Maria, já que é seu filho legítimo. Acontece que não se vê em nenhuma parte da Bíblia uma genealogia de mulheres (o máximo que aparece são os nomes das mães dos reis de Israel). E mais: José é tido como “justo”, ou seja, um impecável praticante e temente da Lei Judaica, o que valoriza mais a pessoa de Jesus, principalmente perante os judeus.

Por outro lado, se nós observarmos bem, em Mt 1,16, logo ao lado do nome de José, vemos a expressão “o esposo de Maria”. Isso parece comum e óbvio, mas é a solução da questão.

Segundo as tradições e costumes de Israel, no momento da circuncisão era quando o pai deveria impor o nome ao menino ao mesmo tempo em que o reconhecia como filho (cf. Lc 1,59; 2,21). O que fazia uma pessoa ser filha de outra não era o DNA, mas o reconhecimento público por parte do pai. Assim, quando no momento da circuncisão de Jesus, José disse publicamente seu nome é Yeshua (Jesus) bem Yosef (filho de José) então ele passou a ser seu filho legítimo, não importando como foi concebido ou como nasceu. Em Israel naquele tempo não havia adoção, por isso, não podemos falar que José era pai adotivo de Jesus. José passou a ser pai legítimo de Jesus no dia que o reconheceu publicamente como filho. Pois mesmo que uma criança tivesse o mesmo DNA do pai, se não fosse reconhecida publicamente como filha então não era filha de direito.

Resumindo: na genealogia de Jesus consta o nome de José porque este era seu pai perante a sociedade da época, visto que o havia reconhecido como filho.

Ir. Jackson C. Silva, NJ**

Ir. Aíla Pinheiro, NJ*

 

Como a espiritualidade sapiencial entende o paradoxo do prazer?

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Mesmo diferente e proveniente de uma época posterior a outras formas de espiritualidade como a dos profetas e da Torá, a espiritualidade sapiencial assim como todas as espiritualidades oriundas de Israel apresentam a forma de pensar o homem em uma visão unitária. Assim, jamais pode haver o embate entre o corpo e alma como advogam os gregos.    Por mais que no judaísmo se conceba o homem como um ser dotado de basar (carne – pessoa comunicável), nefesh (alma, alento, garganta –sede das funções de consciência), dam e ruah(sangue e espírito – o que distingue o vivo do morto) elas não estão opostas e uma não é mais importante que a outra, mas todas constituem o homem  inteiro. Percebamos que Paulo mesmo utilizando categorias gregas (pneuma-espírito, psiché- alma e soma- corpo) quando escreve aos Tessalonicenses, enfatiza a unicidade do ser humano (Cf. I Ts 5,23)

Dessa forma, o amor, o corpo, a expressão sexual, o prazer, longe de serem pecaminosos, feios, incompatíveis à espiritualidade, é a sua manifestação a Deus que nos amou por primeiro (cf. I Jo 4). O prazer nos movimenta e nos impulsiona a buscar mais que um objeto para possuí-lo. Faz-nos buscar o outro para manifestar e experimentar o amor que já está implantado em nós e também no outro por Deus, pois não fomos feitos para viver sozinhos. A própria relação entre Deus e seu povo se dá em uma aliança. O Amado e a amada buscam-se porque se amam e consumem esse amor como ilustra o livro do Cântico dos Cânticos.

Portanto, o desejo do prazer deve nos levar a viver o versículo do Salmo 62(63),2: “Ò Deus, tu és meu, desde a aurora te procuro. De ti tem sede minha alma, anela por ti minha carne, como terra deserta, seca, sem água.”

Ir. Jackson C. Silva, NJ

 Por que a figura da mulher é tão valorizada nos escritos sapienciais ao ponto de ser comparada à sabedoria?

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Na lei e nos profetas há poucos indícios do protagonismo das mulheres em Israel. Apenas nomes como Jael e a profetiza Huldas, e outras como Débora, se destacam ao longo dessas partes da bíblia, e Ester, Rute e Judite apresentam-se como títulos de livros da Bíblia.

Por outro lado, a personificação da sabedoria como mulher aparece em diversos livros sapienciais (Pr 8,30-31; 1­– 9; Jó 28,12-28; Sr 24, Sb 9). Isso possivelmente sofreu influência cultural do Egito para o qual a figura de Ma’at era tida como a personificação da justiça e da ordem no mundo. Além disso, tratar a sabedoria como uma linda mulher pode ter sido uma estratégia dos sábios para atrair e motivar os jovens homens que constituíam seu principal público.

Entretanto, talvez a presença e influência das mulheres na vida moral e intelectual de Israel tenha sido base para relacionar a mulher e a sabedoria. Como a literatura sapiencial está ligada ao cotidiano e a questões práticas, educacionais, éticas, certamente isso proporcionou uma valorização das experiências das mulheres na maneira de conhecer e de pertencer ao povo de Israel. Além disso, como a sabedoria está presente não só na vida dos escribas e do templo, mas em todos os níveis da sociedade, a imagem da sabedoria como mulher permitiu também a unificação desses vários tipos de sabedoria, dos reis, dos escribas e do cotidiano das pessoas mais simples.

Ir. Jackson C. Silva, NJ

Que papel desempenhou o humor na busca dos sábios pela sabedoria?

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O povo de Israel em vez de privilegiar abstração descrição objetiva minuciosa, tão comum ao pensamento grego, trata seus conceitos e o ambiente em que vive de maneira concreta, subjetiva, relacional. Assim, tanto o conhecimento (heb. da‘at) como a verdade (heb.‘emet) seguem a mesma maneira: um relacionamento de amor e de amizade que desemboca numa intimidade e em um jeito livre dos sábios fortemente marcado pelo humor.

Mas, a base da liberdade dos sábios para “brincar” com a verdade provém da fé e da confiança de Israel no Deus vivo que é Criador e fonte de sua verdade. Uma vez “abandonados” à confiança n’Ele, tornam-se livres para falar sobre conceitos tão profundos e inerentes ao ser humano, como a verdade e a sabedoria.

Ir. Jackson C. Silva, NJ

O que significa Kénosis e em livro da Bíblia esse tema é tratado?

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Kénosis, é oriundo do termo grego kenós que significa “vazio”.  Esse tema é tratado na Carta de Paulo aos Filipenses, especificamente em Fl 2,6-11, o qual recebeu na história da teologia Hino da Kénosis. Especificamente em Fl 2,7 aparece o termo grego ekénosen (=esvaziou-se) que derivou essa expressão e que trata de uma atitude de esvaziar-se, privar-se de poder ou abdicar do que possui.

De fato, esse é modelo de vida que traduz a totalidade da vida de Jesus entre nós, na historia e na criação, deixando seus privilégios de Filho de Deus, até sua morte, e morte de cruz (escândalo para judeus e loucura para os pagãos – I Cor 1,23). Trata-se de um convite insistente não só para os Filipenses, mas para todos os cristãos que devem ser afetados na totalidade de sua existência.

 

Por Ir. Jackson C. Silva, NJ

Qual a importância da Carta a Filémon e por que foi canonizada?

A carta a Filêmon apresenta-se mais como um bilhete que uma carta propriamente dita, contendo apenas 25 versículos. Pode parecer relevante, pelo fato de nela está contido um simples pedido de Paulo para Filêmon perdoar seu escravo fugitivo recém-convertido ao cristianismo.

Entretanto, trata-se de um grande testemunho da fé cristã diante do contexto do Império Romano, marcado pela diferença de classes – escravos e senhores. Além disso, também vemos a postura que o apóstolo apresenta em relação à Filêmon que também tem servido de testemunho para a comunidade cristã. Ele não usa de sua autoridade para obrigar a Filêmon a perdoar Onésimo (Fm 8.14b), mas persuadi-o a praticar o perdão pelo amor e pela liberdade, características intrínsecas do cristianismo.

Portanto, manter essa carta no cânon das Sagradas Escrituras é mais uma forma de afirmar que diante de Cristo, todos são iguais. Não há mais diferença entre senhor e escravo, pois todos são agora irmãos na fé, além de serem convidados constantemente a praticar o perdão no amor e na liberdade. 

Por Ir. Jackson Câmara Silva, NJ

Quais as diferenças entre a política de dominação dos impérios da Assíria, Babilônia e Pérsia?

A política de dominação adotada pela Assíria era acabar com a organização do país dominado. Esse império deportava os povos dominados de uma região para outra, miscigenando-os.

Já os Babilônios, ao dominarem um povo, exilavam os nobres, os oficiais, os corajosos e os ferreiros daquela etnia porque eram essas classes que poderiam, se continuassem em seus territórios, motivar revoltas como o Império dominador. Os trabalhadores, os pastores e os camponeses continuaram nos territórios para pagarem tributos ao Império e, além disso, os babilônios deixavam um rei de fachada daquele mesmo povo, com a função de administrar os tributos.

Em suma, os assírios e os babilônios lidavam com os povos dominados desterrando-os para outras terras. Esta política visava enfraquecer o desejo de revolta, porque ao misturar, em um determinado lugar, povos de etnias e de culturas diferentes, criava uma dificuldade natural para o desenvolvimento de uma unidade mínima.

Ciro manteve uma política de dominação diferente daquelas estabelecidas por assírios e babilônios. Por sua vez, desejava agradar tanto os povos dominados como suas respectivas divindades, porque acreditava que a melhor maneira de manter seus domínios era através do desenvolvimento de uma política de tolerância e benevolência, em vez de crueldade e brutalidade. Foi exatamente esta política que levou ao fim do exílio dos judeus nas terras da Babilônia. Ciro declarou extinto o cativeiro de todos os povos e permitiu que os cativos, que assim quisessem, pudessem voltar às suas terras de origem. Os que decidissem retornar tinham autorização para estabelecer um governo próprio que deveria funcionar dentro da estrutura do Império Persa.

Por Frei Paulo Walbério,OFMCap*******

Quais os principais fatores que tornaram possíveis o surgimento de uma tradução ecumênica da Bíblia?

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O primeiro foi o avanço das ciências que estudam a Bíblia e a correspondência existente entre elas. A identificação na análise filológica, literária e histórica entre essas ciências permitiu o intercâmbio e o contato entre os profissionais, possibilitando mútua aproximação quanto aos métodos e os conceitos. Com isso houve a necessidade de uma tradução comum que correspondesse às exigências científicas atuais.

O segundo ponto foi o crescimento do movimento ecumênico. Muitas Igrejas estavam vivendo um clima favorável ao diálogo, através de uma referência comum à Escritura. Era preciso, com urgência, oferecer aos cristãos ainda divididos uma versão verdadeiramente ecumênica.

O terceiro motivo tem haver com o processo de evangelização e missão. Sabe-se que estas duas atividades são ineficazes sem uma efetiva leitura e difusão da Bíblia. Dentro dessa perspectiva missionária, foi discutido que muitas pessoas no mundo não lêem a Bíblia, porque a mesma é apresentada em várias versões divergentes por Igrejas separadas. Essa questão foi evidenciada pelo movimento missionário protestante e foi ressaltado nos decretos do Concílio Vaticano II, não obstante todos falaram igualmente sobre a colaboração ecumênica como solução à evangelização.

 

Adaptado da apresentação da BÍBLIA TEB (TRADUÇÃO ECUMÊNICA BÍBLICA – EDIÇÃO EM LÍNGUA PORTUGUESA). São Paulo, SP: Loyola, 1994.

 

Israel Alison Regis e Silva****

Qual foi o processo de elaboração do livro do Deuteronômio, assim como o temos hoje?

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Podemos dizer que o Deuteronômio nasce de leis que tinham como intuito inicial resolver problemas entre famílias e clãs, leis que serviam para garantir o “direito” do povo, leis essas que foram sendo acumuladas ao longo do tempo, de modo especial no Reino do Norte. Depois da destruição da Samaria esse material foi levado para o Reino do Sul pelos que se mantiveram fiéis ao javismo. O núcleo do Dt (12,1-26,19) foi elaborado a partir dessa coletânea de leis. Os escribas da corte de Jerusalém (antes do exílio) ao editarem o núcleo central do Dt acrescentaram-lhe dois blocos (4,44-11,32 e 27,1-28,69). Depois da morte de Josias e da experiência do exílio exigiram uma complementação da Obra Historiográfica do Deuteronomista (OHDtr), o que gerou mais dois acréscimos (1,1-4,43 e 29,1-34,12), “portanto, o Dt foi sendo construído, a partir do núcleo central, para se adaptar ao projeto literário-teológico dos deuteronomistas”.

Assim temos:

Dt 1,1-4,43 ­_ Segunda redação (período exílico) [aparece 10 vezes a palavra HOJE]

Dt 4,44-11,32 ­_ Primeira redação (período pré-exílico)

Dt 12,1-26,19 _ Núcleo

Dt 27,1-28,69 _ Primeira redação (período pré-exílico)

Dt 29,1-34,12 _ Segunda redação (período exílico) [aparece 20 vezes a palavra HOJE]

 

Ir. Márcio, NJ*****

Como a problemática da relação entre “poder da fé” e “poder das armas”, visto no livro de Isaías, se apresentou na vida de Jesus?

Com Jesus essa problemática se apresenta por causa da mentalidade messiânica de sua época, segundo a qual Deus haveria de mandar o seu Messias para libertar o povo do julgo romano. Devido à mentalidade da guerra santa, presente no pensamento judaico, esperava-se que Jesus fosse libertar politicamente Israel por meio da revolta armada. Os próprios discípulos de Jesus esperavam isto, mas ele veio mostrar uma realidade esquecida, “o poder da fé”. Se os israelitas esperavam um Messias revolucionário Jesus apareceu como aquele que faz uma revolução sem quebrar a cana rachada, sem levantar a espada, mas confiando na fidelidade do Senhor que não abandona os seus.

Ir. Márcio, NJ****

Em que consiste a Teologia da Retribuição? Como os beneficiários do sistema aplicavam-na à história de Israel, no século VIII a.C.?

Em perceber a história à luz de Dt 28,1: “Se escutares verdadeiramente a voz do Senhor, teu Deus, cuidando de pôr em prática todos estes mandamentos que hoje te dou, então o Senhor, teu Deus, te tornará superior a todas as nações da terra”, quer dizer, consiste em acreditar que ao se guiar pela vontade do Senhor o povo será agraciado com o  Shalom, com a prosperidade e a graça divina que jamais abandonará os fiéis ao Senhor. Nessa época, os beneficiários dos sistema usavam essa chave de leitura da história de uma maneira “mágica”, ou seja, tudo o que está acontecendo é graça de Deus porque a fidelidade ao Senhor reina em Israel. Todavia, é notável que a riqueza em Israel depende de fatores desligados da religião da época, tais como, a crise que a Assíria estava passando, não há pagamento de impostos a outras nações nesse período, não há guerras, a competência de Jeroboão II, pedágio cobrado pela passagem na Palestina etc.

Ir. Márcio, NJ*****

O que significa Septuaginta e o que possibilitou seu surgimento?

            Tendo conquistado as terras do Antigo Oriente, dentre elas a Palestina, Alexandre Magno na expansão de seu império instituiu o grego como língua franca, ou seja, utilizada para facilitar as relações administrativas, culturais e comerciais. Todos que compreendiam os domínios de Alexandre passaram a utilizar esse idioma, inclusive os judeus.

Então, profundamente marcados pela cultura grega, os judeus de Alexandria, com o incentivo do rei do Egito, Ptolomeu II, começaram a traduzir a Bíblia para o grego, isso por volta do século III aC. Conta a lenda que foram setenta homens sábios que ajudaram na tradução, por isso é chamada de Septuaginta. Como foi explicitado em questões anteriores, a Septuaginta ou LXX contém mais livros que a Bíblia hebraica. Estes livros foram aceitos pelos cristãos católicos e pelos cristãos ortodoxos sendo chamados de deuterocanônicos.

A versão Septuaginta foi utilizada pelos primeiros cristãos, que em sua maioria eram judeus de cultura helenista o que demonstra a relevância dessa tradução para muitos estudiosos da Bíblia e para a Igreja Católica.

 Israel Alison Regis e Silva*

Quais os primeiros confrontos entre o Evangelho e a cultura da cidade em 1 Cor 5?

No mundo grego e, sobretudo na cidade de Corinto era comum os bacanais, festas ao deus baco, deus da fertilidade, por isso não havia uma moral quanto a sexualidade, os filhos podiam casar-se com a mulher do pai, no caso a madrasta. Na festa de baco as relações sexuais era uma espécie de culto ao deus, com isso pessoas da mesma família tinham relações com os seus. Não havia erro na cabeça de um grego, pois era um culto algo sagrado. Paulo se defronta com esse problema, pois muitos dos gregos que aderiram à fé cristã ainda tinham tais pratica como o incesto, alguém vivia maritalmente com a madrasta. Paulo por sua vez condenou tal prática e advertia que todo aquele que foi batizado em Cristo deva viver uma vida nova, liberto do velho fermento, isto é,  das antigas práticas pagãs.

Ir. Francisco José, NJ***

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